segunda-feira, 19 de novembro de 2012





Os problemas socioambientais nas páginas de Realidade


Singularmente inovadora, excêntrica, literária, potencialmente popular e por fim, indesejada pela repressão insitucional no Brasil de 1970. A princípio impossível de existir na época em que saiu sua primeira edição, a revista Realidade, no auge autocrático da ditadura, ousou questionar o país dos generais. Ao decidir por, mesmo de maneira velada muitas vezes, desnudar o “progresso” - o milagre econômico, por exemplo -, Roberto Civita, o primeiro diretor da revista, e sua equipe de “extraordinários jornalistas”, como se acostumou a ilustrá-los, protagonizaram um capítulo histórico no inventário da imprensa brasileira. Por debater o feminismo, instar lideranças destoantes da política vigente, trazer à baila os questionamentos a respeito do aborto, das contradições católicas, mas, sobretudo, por realizar uma ampla investigação jornalística de nossas cidades quanto aos problemas socioambientais propiciados pela urbanização do país.

As reportagens, escritas sob a influência jornalístico-literária do movimento denominado New Journalism, iniciado na imprensa estadunidense, escarafunchavam os problemas urbanos em minúcias. Das paisagens bruscamente modificadas as condições de pobreza, Realidade revelou em suas páginas o começo de muitos dos problemas ambientais agravados – alguns já irreversíveis - em nossa época, por ocasião da negligência pública, mas também da ganância empresarial: o processo de higienização social que culminou nas proliferações de favelas no Sudeste, o cabresto firme dos coronéis, a manipular cidades interioranas no Nordeste brasileiro, até os desbravamentos irresponsáveis da Amazônia e do Pantanal, subsidiados pela ditadura e realizados por fazendeiros, a fim de trocar matas virgens por pastos queimados.

Há no trabalho uma corrente filosófica a qual se sublima nas produções: o eco-marxismo. Uma derivação do sistema de pensamento marxista quanto a co-existência da valência natureza na sociedade do capital, surgida na década de 1980.

Realidade não apresentou o tema meio ambiente como uma categoria da revista – Política, Ciência, Economia e etc -, mas sim feito o assunto a pautar toda uma edição. Matérias escolhidas sob a guisa de análise.

Para quem Realidade interessa, a revista pode ser classificada já como épica. Lançada pela Editora Abril em 1966 e findada em 1976, foi essa a grande influenciadora de mudanças no país. A partir da pauta, e no decorrer de toda a sua elaboração.

Atualmente mantém-se de pé um blog universitário, “abastecido” por uma equipe de alunos e professor interessados no passado de Realidade. A última postagem data de 2010: http://virourealidade.blogspot.com.br/

Em 1972, sai a edição especial de 288 páginas, com a manchete “Nossas Cidades”, uma investigação ampla sobre a urbanização do país e do mundo.



Jefferson Passos








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