Os problemas
socioambientais nas páginas de Realidade
Singularmente inovadora, excêntrica, literária,
potencialmente popular e por fim, indesejada pela repressão insitucional no
Brasil de 1970. A princípio impossível de existir na época em que saiu sua
primeira edição, a revista Realidade, no auge autocrático da ditadura, ousou
questionar o país dos generais. Ao decidir por, mesmo de maneira velada muitas
vezes, desnudar o “progresso” - o milagre econômico, por exemplo -, Roberto
Civita, o primeiro diretor da revista, e sua equipe de “extraordinários
jornalistas”, como se acostumou a ilustrá-los, protagonizaram um capítulo
histórico no inventário da imprensa brasileira. Por debater o feminismo, instar
lideranças destoantes da política vigente, trazer à baila os questionamentos a
respeito do aborto, das contradições católicas, mas, sobretudo, por realizar
uma ampla investigação jornalística de nossas cidades quanto aos problemas
socioambientais propiciados pela urbanização do país.
As reportagens, escritas sob a influência
jornalístico-literária do movimento denominado New Journalism, iniciado na
imprensa estadunidense, escarafunchavam os problemas urbanos em minúcias. Das
paisagens bruscamente modificadas as condições de pobreza, Realidade revelou em
suas páginas o começo de muitos dos problemas ambientais agravados – alguns já
irreversíveis - em nossa época, por ocasião da negligência pública, mas também
da ganância empresarial: o processo de higienização social que culminou nas
proliferações de favelas no Sudeste, o cabresto firme dos coronéis, a manipular
cidades interioranas no Nordeste brasileiro, até os desbravamentos
irresponsáveis da Amazônia e do Pantanal, subsidiados pela ditadura e
realizados por fazendeiros, a fim de trocar matas virgens por pastos queimados.
Há no trabalho uma corrente filosófica a qual se sublima nas
produções: o eco-marxismo. Uma derivação do sistema de pensamento marxista
quanto a co-existência da valência natureza na sociedade do capital, surgida na
década de 1980.
Realidade não apresentou o tema meio ambiente como uma
categoria da revista – Política, Ciência, Economia e etc -, mas sim feito o
assunto a pautar toda uma edição. Matérias escolhidas sob a guisa de análise.
Para quem Realidade interessa, a revista pode ser
classificada já como épica. Lançada pela Editora Abril em 1966 e findada em
1976, foi essa a grande influenciadora de mudanças no país. A partir da pauta,
e no decorrer de toda a sua elaboração.
Atualmente mantém-se de pé um blog universitário, “abastecido”
por uma equipe de alunos e professor interessados no passado de Realidade. A
última postagem data de 2010: http://virourealidade.blogspot.com.br/
Em 1972, sai a edição especial de 288 páginas, com a manchete
“Nossas Cidades”, uma investigação ampla sobre a urbanização do país e do
mundo.
Jefferson Passos
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