quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O alto custo do carbono

Nesse próximo dia 30 de outubro terão se passado 5 anos da publicação do Relatório Stern, o trabalho científico mais abrangente sobre os impactos e riscos das mudanças climáticas publicado até os dias atuais. A pedido do Primeiro Ministro da Inglaterra, Sir Nicholas Stern juntou um time de 23 pessoas para fazer um apanhado de dados e criar modelos de projeções econômicas associados aos riscos de das mudanças climáticas descontroladas.

O autor resumiu assim o seu trabalho no época: “A conclusão do trabalho é essencialmente otimista. Ainda há tempo para evitar os piores impactos das mudanças climáticas, se agirmos agora e agirmos internacionalmente. Governos, negócios e indivíduos, todos precisam trabalhar juntos para responder ao desafio. Escolhas políticas fortes e deliberadas feitas pelos governos são essenciais para motivar  mudanças. Mas a tarefa é urgente. Demorar a ação, mesmo que por uma década ou duas, nos levará a um território perigoso. Nós não devemos deixar essa janela de oportunidade fechar.

Por se tratar de um trabalho muito extenso, os pontos principais foram resumidos pela BBC (tradução livre) para enfatizar os riscos e possibilidades:

Temperatura
  • As emissões de carbono já aumentaram em mais de meio grau centígrado as temperaturas globais. Se nada for feito a respeito, há uma chance maior que 75% das temperaturas aumentarem entre 2 a 3 graus centígrados nos próximos 50 anos. Há uma chance de 50% da média das temperaturas globais aumentar até 5 graus centígrados.
Impacto ambiental
  • O aumento nos níveis do mar podem levar 200 milhões de pessoas a serem permanentemente relocadas. Até 40% das espécies de seres vivos correm risco de extinção. O derretimento das geleiras aumenta o risco de enxentes e reduzirá a produção agrícola (principalmente na África).
Impacto econômico
  • Climas extremos podem reduzir o PIB (Produto Interno Bruto) global em até 1%, Um aumento de dois a três graus centígrados nas temperaturas podem reduzir a produção econômica. No pior cenário possível, o consumo per capita pode cair até 20%. Para ficar em níveis gerenciáveis, as emissões precisam estabilizar nos próximos 20 anos e cair entre 1 a 3% depois disso, que custaria cerca de 1% do PIB global.
Opções para mudanças
  • Reduzir a demanda dos consumidores por bens e serviços dos grandes poluidores e tornar a oferta global de energia mais eficiente. Promover formas mais limpas de energia e transporte, com os combustíveis não-fósseis contabilizando cerca de 60% da produção energética até 2050. Também é necessário agir nas emissões não-energéticas, impedindo o avanço dos desflorestameto e promovendo a reciclagem.
Respostas governamentais
  • Criar um mercado global para a precificação do carbono e extender o Esquema Europeu de Trocas de Emissão (EETS) globalmente, trazendo países como os Estados Unidos, Índia e China. Além de definir nova meta da EETS para reduzir as emissões de carbono para 30% até 2020 e para 60% em 2050.
  • Passar uma lei para sacramentar metas de redução de carbono e criar novos corpos independentes para monitorar seu progresso.
  • Criar uma nova comissão para liderar os investimentos de companhias britânicas em tecnologia verde, com a meta de criar 100 mil novos empregos.
  • O ex-vice presidente americano Al Gore deverá aconselhar o governo nessa questão.
  • Trabalhar com o Banco Mundial e outras instituições financeiras para criar um fundo de US$20 bilhões para ajudar países mais pobres a se ajustarem aos desafios das mudanças climáticas.
  • Trabalhar com o Brasil, Papua Nova Guiné e Costa Rica para promover o reflorestamento sustentável e previnir o desflorestamento.
O trabalho causou grande impacto no meio científico, gerando críticas positivas e negativas além de inspirar novos trabalhos sobre a abordagem econômica e os dados referentes ao tema do aquecimento global. Richard S. J. Tol e Gary W. Yohe escreveram o "Relatório sobre o Relatório Stern", onde fazem seis críticas assim resumidas:
  1. Ele não produz novas estimativas do impacto das mudanças climáticas nem da redução das emissões de gás carbônico, baseado-se apenas em material existente.
  2. A valorização do impacto das mudanças climáticas reportado pode ser explicado por uma baixa taxa de desconto, um risco que é duplamente contado, e principalmente uma vulnerabilidade que é considerada constante durante longos períodos (dois ou mais séculos). O primeiro ponto é argumentável, o segundo está sujeito a uma análise profunda por parte dos autores.
  3. As baixas estimativas para os custos das mudanças de políticas são justificadas por uma linha de tempo truncada na qual elas foram calculadas, omitindo as repercurssões econômicas da valiosa energia e ignoraram o capital investido no setor de energia. A primeira conclusão é simplesmente errada, especialmente porque as baixas taxas de isenção põe grande peso no outro lado do cálculo em impactos que só serão sentidos depois do ano de 2050. As duas últimas são enganadoras.
  4. O custo e benefício estimados no relatório não estão de acordo com políticas conclusivas. Se os impactos das mudanças climáticas são tão dramáticas quanto ele sugere, e se os custos da redução das emissões é tão baixo quanto o reportado, então a concentração do alvo deveria ser muito mais constrita do que a proposta. O relatório, na verdade, não conduz um exercício de otimização apropriado.
  5. Um forte caso para redução das emissões mesmo no curto prazo pode ser feito sem a necessidade de valorizações suspeitas e somas inapropriadas através de várias fontes de risco climático. Um corolário dessa observação é que não fazer nada no curto prazo é desaconselhável mesmo em termos econômicos.
  6. O alarmismo suportado por teses econômicas dúbias do relatório pode ajudar a polarizar ainda mesmo o debate das políticas climática. Ele certamente permite oponentes das políticas de curto prazo focar a atenção mundial nos erros das estimativas e desviar da mensagem mais importante: que os riscos climáticos estão se aproximando mais rápido do que havia sido antecipado, que algum tipo de resposta política vai precisar diminuir a probabilidade dos mais sérios desses riscos, e que a partir de agora terá de ser justificado por argumentos econômicos ancorados em uma análise mais confiável. 
Por ser o maior produtor industrial do mundo, os Estados Unidos da América também são os maiores responsáveis pela produção de gases do efeito estufa e outros poluentes. O império global conquistado pelos Estados Unidos da América ao longo do século XX foi forjado com a queima de quantidades exorbitantes de carvão mineral e petróleo. No momento é ainda mais difícil os EUA reagirem às ameaças climáticas por estarem mais preocupados com a crise financeira que assola o país. Políticos do Partido Republicado, conhecido pelo apoio às grandes corporações, já se manifestou a favor de fechar a EPA (agência americana que regula a qualidade do ar). Enquanto os democratas, do partido do presidente Barack Obama, tem que explicar o escândalo do subsídio bilhonário que foi concedido à Solyndra, uma fabricante de painéis solares que declarou falência no mês passado.

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