segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Falta de conhecimento no plantio também prejudica espaço público

Há um grande interesse da população de Fortaleza em plantar árvores, confirma o agrônomo da Semam e membro da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Valdelício Pontes. Entretanto, o desconhecimento do cidadão na hora de plantar espécies nos solos das calçadas e a falta de fiscalização do poder público municipal (não há especificidades quanto ao plantio em espaço público, de acordo com o Código de Obras e Posturas do Município de Fortaleza, elaborado em 1981), geram degradações nos passeios da capital. “O crescimento não organizado da cidade já propiciou o asfalto e a falta de padronização nas calçadas que nós temos, com a plantação de árvores que não se adaptam ao solo de Fortaleza aumentaram as reclamações dos próprios cidadãos sobre calçadas destruídas e muros levantados”, explica Pontes.

Exemplo maior de árvore mal adaptada ao ecossistema urbano de Fortaleza, o nim indiano (Azadirachta indica), espécie exótica, vinda do exterior para o Brasil, pode estar causando problemas à biodiversidade, competindo com as espécies nativas e desvalorizando-as. O biólogo Marcelo Moro explica que algumas exóticas se adaptam bem e começam a se reproduzir e a se espalhar, tornando-se invasoras. Depois, com a interação junto a vegetação natural, dividem espaço com as plantas nativas e danificam a biodiversidade local.

Um estudo seu realizado em 2006, consistiu em fazer um inventário das árvores fixadas nas ruas e praças dos bairros Benfica e Jardim América, a fim de obter um resultado qualiquantitativo da arborização. Terminada a conta, descobriu o tamanho da desigualdade: 95% das árvores exóticas predominavam nesses bairros.

Desvalorização
Pontes se mostra preocupado com a desvalorização das espécies brasileiras. “Honestamente, nós não precisamos de nim (indiano), viuvinha-negra (Cryptostegia madagascariensis) ou algaroba (Prosopis juliflora). A grande contradição é termos a mais rica biodiversidade do mundo e nos utilizarmos da flora de outras regiões”, critica.

Outra apreensão sua, o modismo, reitera o fascínio pelo nim indiano. “Essa árvore virou uma febre, todos só querem plantar nim indiano. Não é boa prática plantar só uma espécie, pois assim não temos uma diversidade para que haja uma gama de frutos diferentes, ninhos diferentes para os vários tipos de pássaros e um dinamismo ao paisagismo da cidade”, conclui.

Jefferson Passos

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