Falta de conhecimento
no plantio também prejudica espaço público
Há um grande interesse da população de Fortaleza em plantar
árvores, confirma o agrônomo da Semam e membro da Sociedade Brasileira de
Arborização Urbana, Valdelício Pontes. Entretanto, o desconhecimento do cidadão
na hora de plantar espécies nos solos das calçadas e a falta de fiscalização do
poder público municipal (não há especificidades quanto ao plantio em espaço
público, de acordo com o Código de Obras e Posturas do Município de Fortaleza,
elaborado em 1981), geram degradações nos passeios da capital. “O crescimento
não organizado da cidade já propiciou o asfalto e a falta de padronização nas
calçadas que nós temos, com a plantação de árvores que não se adaptam ao solo
de Fortaleza aumentaram as reclamações dos próprios cidadãos sobre calçadas
destruídas e muros levantados”, explica Pontes.
Exemplo maior de árvore mal adaptada ao ecossistema urbano de
Fortaleza, o nim indiano (Azadirachta
indica), espécie exótica, vinda do exterior para o Brasil, pode estar causando
problemas à biodiversidade, competindo com as espécies nativas e
desvalorizando-as. O biólogo Marcelo Moro explica que algumas exóticas se
adaptam bem e começam a se reproduzir e a se espalhar, tornando-se invasoras.
Depois, com a interação junto a vegetação natural, dividem espaço com as plantas
nativas e danificam a biodiversidade local.
Um estudo seu realizado em 2006, consistiu em fazer um
inventário das árvores fixadas nas ruas e praças dos bairros Benfica e Jardim
América, a fim de obter um resultado qualiquantitativo da arborização.
Terminada a conta, descobriu o tamanho da desigualdade: 95% das árvores
exóticas predominavam nesses bairros.
Desvalorização
Pontes se mostra preocupado com a desvalorização das espécies
brasileiras. “Honestamente, nós não precisamos de nim (indiano), viuvinha-negra
(Cryptostegia madagascariensis) ou
algaroba (Prosopis juliflora). A
grande contradição é termos a mais rica biodiversidade do mundo e nos utilizarmos
da flora de outras regiões”, critica.
Outra apreensão sua, o modismo, reitera o fascínio pelo nim
indiano. “Essa árvore virou uma febre, todos só querem plantar nim indiano. Não
é boa prática plantar só uma espécie, pois assim não temos uma diversidade para
que haja uma gama de frutos diferentes, ninhos diferentes para os vários tipos
de pássaros e um dinamismo ao paisagismo da cidade”, conclui.
Jefferson Passos